Amy & Matthew – Cammie McGovern
31/01/2015
Amy e Matthew não se conheciam realmente. Não eram amigos. Matthew sabia quem ela era, claro, mas ele também sabia quem eram várias outras pessoas que não eram seus amigos.Amy tinha uma eterna fachada de felicidade estampada em seu rosto, mesmo tendo uma debilitante deficiência que restringe seus movimentos. Matthew nunca planejou contar a Amy o que pensava, mas depois que a diz para enxergar a realidade e parar de se enganar, ela percebe que é exatamente de alguém assim que precisa.À medida que passam mais tempo juntos, Amy descobre que Matthew também tem seus problemas e segredos, e decide tentar ajudá-lo da mesma forma que ele a ajudou.E quando a relação que começou como uma amizade se transforma em outra coisa que nenhum dos dois esperava (ou sabe definir), eles percebem que falam tudo um para o outro... exceto o que mais importa.
Como falar de Amy e Matthew sem me emocionar? Foi uma surpresa, que me pegou de um jeito que poucos livros conseguiram. Me fez pensar e refletir sobre muitas coisas e me fez ficar com várias perguntas...
“Muitas pessoas não sabem. Você pode nem se dar conta disso. Muitos de nós ainda estamos tentando descobrir o que desejamos dizer.”
Antes de começar a falar um pouco mais, preciso dizer que tudo o que eu sabia do livro era a sinopse acima. A vontade de ler veio daquela coisa entre eles dizerem tudo o que sentiam menos o que mais importava e a frase que diz que o eu te amo é o mais difÃcil de dizer. Eu já passei por isso e achei que teria um romance assim, entre dois adolescentes que se tornam amigos e que se descobrem apaixonados.
Acontece que Amy e Matthew é isso, porém é muito mais do que isso. Não é apenas um romance adolescente, não é apenas uma história com pessoas com problemas ou deficiência. É uma história marcante sobre caminhos e decisões que tomamos na vida ou que deixamos que alguém tome pela gente. E junto com isso ainda tem todas as dúvidas e contradições da adolescência.
Uma das sinopses em inglês dá uma ideia mais completa de tudo o que a gente precisa saber a mais antes de embarcar de vez nessa história. Eu não considero spoiler já que a gente descobre logo no inÃcio do livro esses detalhes, mesmo assim, se você quiser descobrir de surpresa como foi comigo, basta pular essa parte (caso contrário, selecione o texto).
Amy ama Matthew e ele a ama também. Esta é a história deles.
Amy é inflexivelmente honesta sobre suas limitações. Nascida com paralisia cerebral, ela não pode andar ou falar sem ajuda. Mas preso dentro desse corpo nada cooperativo tem uma mente brilhante e um espÃrito luminoso - uma garota capaz de amar de verdade e digna de ser amada de volta.
Matthew tem sua própria lista de desafios - uma mente consumida por indesejados e repetidos pensamentos, rituais obsessivos e um medo que ele não pode explicar. Mas por baixo de toda sua ansiedade tem uma semente profunda de esperança por alguém que acredite nele.
Esta é a história de Amy e Matthew. Pode não ser um conto de fadas ou se passar em um mundo imaginário longe do nosso. Mas o amor que eles dividem é real. E sim, existe magia nisso.
(tradução feita por mim e meu inglês ainda não tão fluente!)
Ao terminar do livro fiquei pensando em como reclamamos da vida sem ter realmente um problema. Aquela coisa de que a grama do vizinho sempre é mais verde, sabe? Sim, todos nós temos problemas e temos defeitos, mas você consegue ver que nem sempre o que você acha um defeito realmente é? Você consegue parar de se achar gorda demais (ou magra demais) e que é por isso está solteira? Você consegue parar de pensar que seu cabelo deveria ser liso (ou o contrário) para que você encontre o amor da sua vida? Você sinceramente consegue pensar sem preconceitos que todo o tipo de amor vale a pena?
E ai eu penso o quanto é difÃcil a gente dizer que ama. E o quanto deixamos o tempo passar por medo, um medo que nos torna iguais, indiferente de todas as nossas limitações. E a Amy não é assim tão diferente de nenhuma garota adolescente... Ela quer ter amigos, ela quer ser considerada uma amiga, ela pensa em ter um namorado. Matthew também não é assim tão diferente de outros garotos adolescentes. Ele tem TOC e isso afeta seus dias e sua convivência com todos, mas por saber que isso é uma coisa errada ele tenta esconder e passar sem chamar a atenção. Mas no fundo, ele quer ter amigos, ele quer ser normal.
É difÃcil ser diferente... Não é difÃcil amar algo diferente, mas pode ser difÃcil assumir para os outros que se ama algo diferente. Eu pensei em pessoas com algum tipo de deficiência e em como elas são julgadas quando estão acompanhadas. Mas por que Amy não pode ser amada? Amada de verdade, no sentido amor romântico. ... Amada e desejada.... Só porque ela não anda direito e não consegue falar direito? Mas não é isso que queremos dizer quando falamos que o amor não vê o corpo e sim o coração?
Cammie McGovern apresenta personagens muito próximos da realidade. Eu senti Amy, Matthew e vários outros personagens da trama muito mais reais do que em muitos livros que já li. Eu tive alunos com deficiências de vários tipos e essa é uma realidade que nem sempre é fácil de se lidar. Não só por quem tem uma deficiência, mas por quem convive de perto com alguém assim. Os desafios do caminho não são poucos, mas como diz a mãe da Amy em um momento, não devemos ter medo do caminho. E o livro me fez pensar e torcer para que todos consigam ter seu final feliz. Me fez ver que nem sempre um final feliz é aquele onde tudo dá super certo e você vive feliz para sempre. As vezes para um final feliz basta você dizer o que precisa e começar com um dia de cada vez.
Eu gostei da capa nacional que foi inspirada em uma das capas internacionais. Se bem que eu acho a capa original muito bacana também... Quanto ao tÃtulo, adorei que optaram pela opção Amy e Matthew... Acho que é um dos poucos casos que concordo com a troca de tÃtulo, já que possivelmente eu não me encantaria com um tÃtulo com algo como “diga o que quiser” . Abaixo tem três capas internacionais, onde uma publicação também contou com o tÃtulo que usaram aqui no Brasil. A diagramação está muito bacana, folha amarelada e fonte agradável de ler. Dessa vez eu encontrei alguns errinhos de concordância e algumas palavras a mais na frase, mas nada que tirasse o brilho do livro.
Emocionante e tocante, Amy irá seguir comigo por muito tempo, me fazendo lembrar que a minha vida pode nem sempre ser fácil, mas que ainda assim é mais fácil do que para outras pessoas. E que isso não quer dizer que eu sou fraca e nem nada disso, quer dizer apenas que eu preciso manter o foco, entender as frustrações e seguir em frente. Matthew vai ficar comigo por muito tempo, me fazendo lembrar que nem sempre contamos aos outros o que nos dá medo, mas que aceitar ajuda é preciso pois nem sempre conseguimos fazer tudo sozinho. Os nossos problemas são nossos problemas, mas não tem nada de errado em pedir ou receber ajuda. E mesmo que precisamos de ajuda as vezes, não quer dizer que não podemos ajudar. E esse é o maior ponto que eu vou guardar do livro.