Meia-Noite na Austenlândia – Shannon Hale
08/03/2015
Charlotte Kinder é bem-sucedida nos negócios, mas não no amor. Tentando se reerguer após um doloroso divórcio — e ainda obrigada a ver o ex-marido se casar com a amante —, ela passa a enfrentar o mundo dos programas arranjados com homens desconhecidos. Sem esperanças, se presenteia com duas semanas na Austenlândia, uma mansão interiorana que reproduz a época de Jane Austen. Lá, todos devem se portar de acordo com os costumes da Inglaterra regencial, ou seja, homens são perfeitos cavalheiros e o espartilho é item obrigatório nos trajes de uma dama. Porém, na verdade, os homens são atores, contratados para entreter as hóspedes.
Todos em Pembrook Park devem desempenhar um papel, mas, com o passar do tempo, Charlotte não tem mais certeza de onde termina a encenação e começa a realidade. E, quando os jogos na casa se mostram um pouco assustadores, ela descobre que talvez nem mesmo o chapéu mais bonito poderá manter sua cabeça grudada ao pescoço. Ao contrário do que se poderia pensar, Pembrook Park se revela um lugar intimidante, e a experiência de Charlotte passa a ser muito diferente da descrita no pacote de férias.
Meia-Noite na Austenlândia entrou na minha lista de leituras por um desafio que fiz comigo mesma. Sim, decidi que esse ano tentaria sair da minha zona de conforto algumas vezes e esse é mais um livro nesse estilo. Por que? Bom, eu não li nada da Agatha Christie e eu não sou uma “Austen Girl” (sério, já tentei mas não consegui terminar nenhum livro da Jane que comecei)... Resumindo, quando vi que um livro atual traria uma mistura do universo de Austen e Christie pensei por que não?
"A esperança tinha sido morta a pauladas. Ela enxugou as lágrimas, desligou o coração e mergulhou em um estado de coma emocional. Era bem mais fácil não sentir nada". (pág. 09)
O livro conta a história de Charlotte, que depois de se separar resolve tirar as primeiras férias sozinhas (já que os filhos iriam passar as férias com os pais). Ao se encantar com a leitura dos livros de Austen, ela pede na agência uma viagem que contenha detalhes da vida e obra da autora (tipo lugares citados nas obras, onde ela morou, esse tipo de coisa) e a agência acaba indicando para ela Pembrook Park, onde ela faria uma imersão de duas semanas em um mansão que remonta a época de Jane Austen.
Ao chegar no lugar, ela tem um novo papel, uma personagem que deve interpretar. Lá tem outros visitantes e também autores que são contratados para fazer os papeis que faltam para que a experiência seja completa. Charlotte ganha um irmão, assim como um pretendente amoroso – que seguirá todas as regras da Regência e irá cortejá-la até o dia do baile onde a pedirá em casamento. É uma experiência de viver um romance a antiga, um jeito de fantasiar e se divertir.
Imagine só o que aconteceria se Charlotte pudesse entrar de corpo e alma nas histórias de seus livros.
Tudo estava prestes a mudar".. (pág. 20)
Acontece que, depois de um mistério desenvolvido para entreter os convidados e uma brincadeira onde ela acaba encontrando um quarto secreto na mansão, as coisas em Pembrook Park acabam se tornando um tanto que confusas para Charlotte. Até onde vai o mistério ficcional? Será que existe mesmo um mistério de verdade por trás de tudo? Como descobrir quem mente e quem fala a verdade em um mundo onde tudo foi criado? Charlotte começa a ficar intrigada com tudo e não sabe até que ponto tudo é realmente só uma fantasia e onde entra a realidade. Até onde o que está acontecendo é somente um papel e onde começa a pessoa por trás do papel? E mais, para completar, ela começar a se interessar de verdade pelo seu suposto pretendente.
Quando começamos a ler um livro que não é exatamente do nosso estilo, fica bem mais difícil a gente se entregar e se envolver com os personagens. Isso é um fato que eu imagino que aconteça com grande parte dos leitores... Principalmente por não conter aquelas coisas que já estamos acostumadas em uma leitura e que são o motivo de curtirmos um estilo. Foi difícil ler Meia-Noite em Austenlândia, foi difícil me entregar e gostar um pouquinho mais da Charlotte, foi difícil concordar com a Carina Rissi (e o que ela fala na contra-capa do livro).
Meu maior problema com Meia-Noite em Austenlândia foi o fato de a Charlotte conversar demais com ela mesma. Se fosse só isso, tudo bem... Não seria a primeira personagem a ter devaneios e tal. Mas ela conversa mesmo com seus “Pensamentos Profundos” e foi difícil não pensar em uma certa “Deusa Interior”. Então cada vez que isso acontecia, o encanto se quebrava e, ou eu ficava irritada, ou eu ficava rindo por achar ridículo demais. De modo geral Charlotte beira demais ao ridículo – e não de uma forma engraçada. Gente, ela é uma mulher adulta, divorciada, que conseguiu muito dinheiro com uma ideia genial e que parece mais uma adolescente irresponsável na maior parte do tempo.
"Ela colocou o travesseiro sobre a cabeça e esperou morrer. Quando uma hora se passou e Charlotte viu que ainda não tinha morrido, levantou-se e foi aparar as roseiras". (pág. 66)
Shannon Hale tem um jeito de escrever que de certa forma me deixou confusa por vários momentos. Sabe aquela coisa de você ficar pensando “a heroína está certa” e logo depois pensar “a heroína só pode estar errada”? Foi assim que me vi em vários momentos. E teve vários momentos de flashbacks que no início foram interessantes, mas que depois de um tempo serviam apenas para interromper os acontecimentos em Pembrook Park e deixar minha leitura um pouco entediada.
"- O que você está fazendo? - perguntou Charlotte.
- Tentando cortejar você. - Ele continuou a olhar para os lábios dela. - Está funcionando? Porque faz muito tempo que não cortejo ninguém de verdade e não consigo me lembrar de como é. Só sei que quero ficar olhando para você". (pág. 239)
Sim, o livro até tem seus pontos bons, tem uns momentos de humor, de magia do romance a moda antiga e até alguns momentos interessantes no mistério todo. A escrita de Hale me deixou curiosa e querendo saber para onde tudo iria. Mas eu fico triste que o mistério tenha enrolado demais e depois tenha se resolvido de forma tão rápida e de maneira tão irreal – mesmo para um mundo de ficção. E também triste ainda por ver o romance ser transformado em algo extremamente cliché e sem sentido. Quer dizer, a heroína precisava ter seu final feliz, então ele aconteceu – mas em nenhum momento ele faz sentido durante a leitura, tanto que uma das personagens ainda diz “como é que eu não percebi”, para terminar do jeito que terminou.
"O que ela sentia da garganta até as entranhas, toda agitada e fria e leve. Foi por isso que foi para lá. Nada mais precisava acontecer de novo. Ela tivera seu momento na Austenlândia, e, mesmo incompleto e incerto, fora perfeito."(pág. 286)
Claro que isso é uma opinião de quem não leu Christie e nem Austen, mas eu acredito que os livros delas são muito mais do que apenas romances clichés que no final tudo muda e dá tudo certo e crimes resolvidos de forma rápida e nem um pouco real. Até porque se fossem apenas livros superficiais eles não teriam se tornado referência e nem continuariam sendo referência por tanto tempo. Isso me faz pensar que se eu não gostei por não ter lido nada delas pode ser que o livro não foi feito para leitores como eu e sim para as fãs de Austen e Christie . Enfim, não me arrependo de ter lido o livro, mas ele infelizmente, não conseguiu entrar na minha lista de favoritos.
10 comentários
Oiie Lica, adorei sua resenha sobre esse livro, pois eu já havia visto fotos da capa do livro e ouvido falar sobre ele, mas ainda não tinha lido nenhuma resenha e nenhuma opinião formada sobre o livro.
ResponderExcluirAdorei a forma como você falou sobre o livro e com toda a certeza você ganhou mais uma leitora. Beijos.
Confesso que tbm não sou muito fã das duas e que o livro não chamou a minha atenção .... mas fico feliz que tenhas saído da tua zona de conforto. Bju
ResponderExcluirAndo querendo ler o que dona Hale escreve, mas tenho receio de que "estrague" tudo o que gosto mais em Austen D: Ainda estou pensando, mas acho que vou dar uma chance...
ResponderExcluirAh! te indiquei para uma tag! :D http://www.vickydoretto.com/2015/03/tag-de-tudo-um-pouco.html
bjus!
Eu já ouvi falar do livro muito por cima, mas por envolver Jane Austen já me deixou curiosa.
ResponderExcluirE depois de ler sua resenha a vontade aumentou, pois a história parece ser muito fofa.
Já quero! Entrou com certeza para a lista de desejados.
http://lisos-somos.blogspot.com.br/
Eu estava receosa quanto a esse livro, mas depois que comecei a ver resenhas e comentários positivos, me empolguei. Já está na minha lista. A história parece ser ótima.
ResponderExcluirBeijos!
Oi Lica!!
ResponderExcluirTambém não sou fã da Agatha, não consigo gostar de nada do que ela escreve e sei que tem muita gente que quer me matar por isso ahahuahuha
Já ouvi falar um pouco desse livro, todos com pontos ótimos, mas vou dar mais credibilidade a sua resenha que me pareceu mais verdadeira. Depois de ler sua resenha, esse livro saiu da minha lista. Não gosto dessa coisa de personagem conversando muito tempo consigo mesma, me irrita um pouco!
Beijos
http://lumartinho.blogspot.com.br/
Quando comecei a ler pensei: porque geralmente retratam a mulher bem sucedida infeliz no amor? Coisa meio machista...
ResponderExcluirMas enfim, fiquei curiosa para ler o livro, pois já li muito, muito Christie, mas nunca li Austen.
Lica!
ResponderExcluirRealmente é bem complicado sairmos da nossa zona de conforto e ler um livro totalmente diferente do que estamos acostumados.
Não li nada da Jane, embora seja fã da Agatha e dessa autora, nada conheço, mas até gostaria de ler para ver como é a escrita dela e a 'maluquice' de Charlotte.
Muita luz e paz! E um final de semana esplendoroso!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Eu acho super interessante sair da zona de conforto. Não é algo que eu faço sempre e acho que deveria arriscar mais. Pena que nem sempre a gente tem o que espera não é mesmo?
ResponderExcluirNão sou fã da Jane também mas tenho uma amiga louca por ela, por isso acho incrível a diversidade de gostos literários.
Pena que ele não entrou na sua lista de favoritos.
Adoro Jane Austen, é uma escritora incrível com uma riqueza de detalhes e um pensamento muito a frente da sua época. Sempre que fazem uma releitura ou até mesmo uma história que é baseado nos romances dela fico com o pé atrás, primeiro porque é super difícil copiar o modo como alguém passa suas idéias para o papel e segundo que eu fico com a sensação que o autor só está utilizando do nome da autora para se promover, uma coisa mais ou menos assim "A meu livro não é tão bom, mas eu cito Jane Austen"...
ResponderExcluirPor isso passo longe desse tipo de livro, é um preconceito muiiito bobo da minha parte mas tenho tantos livros que realmente quero ler e sei que teram mais mil entrando na lista nesse meio tempo, que acabo resolvendo não tentar novos estilos e histórias.
Obrigada pela visita, dê sua opinião, participe e volte sempre =^.^=
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