O que há de estranho em mim - Gayle Forman

09/10/2016

Ao internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade. 
Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão. 
Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.
"– Sim, o muro está pronto – confirmou V. – E agora a gente vai derrubá-lo outra vez.
– Esse muro serve para nos ensinar que a vida não tem sentido, minhas queridas – emendou  Bebe. – Essa é a lógica da Red Rock."
Eu tenho uma história de altos e baixos com a Gayle Forman, bem no estilo de ame ou odeie. Não tive uma boa experiencia na ultima leitura, mas mesmo assim fiquei curiosa com O que há de estranho em mim e resolvi colocar ele na lista. Para mim, esse livro é o melhor que já li até agora da autora e fiquei muito contente em ter decidido arriscar, afinal, é tão bom quando um livro te ganha não é mesmo?

O livro conta a história de Brit, uma adolescente que aparenta ser a mais rebelde de todas. É claro que na visão dela as coisas não são bem assim - e ela pensa qual o problema de colorir os cabelos, ter piercings e tatuagens e chegar tarde em casa? Ainda mais que ela está chegando tarde pois está ensaiando com a banda - e a música é algo muito importante para ela.
 “Você pode ser até paranoico, mas isso não significa que não  estejam atrás de você.”
O pai está em um novo relacionamento - e a gente não sabe direito o que aconteceu com a mãe dela, só sabe que faz tempo que ela não está mais com eles. Ela tem um irmãozinho também, e embora ela não culpe ele, ela sente que tudo com ele é diferente do que é para ela. Então, em um belo dia, com a desculpa de que irão fazer uma viagem seu pai a engana e a leva para a Red Rock.

A ideia do pai de Brit não é uma ideia ruim. Ele acha que ela está com problemas e que precisa de ajuda e por esse motivo a interna na clínica. Acontece que nem tudo é o que parece, e nossa protagonista se vê internada em um lugar com um método cada vez mais duvidoso de terapia. Com uma equipe sem preparo, sessões que envolvem xingamentos e humilhações, Brit se vê cada vez mais sozinha e sem saber o que realmente fez para merecer estar no lugar que está.
"– Então prestem atenção nesta última coisa. É importante. A Red Rock não está aqui para consertar a gente, mas para servir de depósito enquanto eles mamam o dinheirinho dos nossos pais sem noção. O Xerife, a Dra. Clayton, os conselheiros... eles não estão nem aí. E também não querem que uma se preocupe com a outra, por isso a gente precisa ficar muito esperta. Se a gente se apoiar, ninguém vai ficar tão doida quanto nossos pais acham que a gente já é."
A clínica apresenta uma coisa nos folhetos e em suas divulgações e é completamente outra quando os pais estão longe. E o pior é que eles não aprovam amizades entre as meninas, e algumas coisas que não são problemas reais são considerados problemas enormes lá dentro. Para ter noção, tem gente que está na clínica por ser homossexual, tem gente que está por ser tímida ou por não estar com o peso ideal. E a clínica promete ser a solução para todos esses problemas e muitos outros. É claro que algumas das pacientes tem problemas, mas eles não são tratados como deveriam, e o foco é mais no dinheiro dos pais ricos que querem se ver livres de julgamentos da sociedade.

É muito interessante ver a amizade que Brit acaba formando com algumas meninas que também estão na clínica. Mais ainda quando elas começam a contar seus motivos para estarem lá, e mais do que a própria clínica uma vai ajudando a outra. O elo entre elas é lindo e não tem como não torcer para que as coisas deem certo para todas. Assim como não tem como não se revoltar com algumas coisas por qual elas são obrigadas a passar.

"Dali em diante, fomos  obrigadas a manter a amizade ainda mais em segredo. Isso era a coisa mais absurda do mundo. Que  tipo de instituição educacional ia querer que a pessoa não tivesse amigos nem se divertisse pelo  menos um pouco? Que tipo de lugar ia querer que a pessoa ficasse sozinha e triste, sentindo-se  desprezada, só em nome da terapia?"

Sabe o que é mais triste? É que se você pesquisar vai encontrar matérias com clínicas em que houveram tais abusos, com equipes más preparadas e tal. A próprias autora comenta que, embora o livro seja ficção e que a Red Rocks do livro não exista, ela se inspirou em alguns casos reais, de meninas que foram colocadas em instituições sem preparo ou que foram mandadas para tais por atitudes que não eram para serem consideradas problemas. Estar acima do peso, ser homossexual ou gostar de ter os cabelos pintados de cores vibrantes não é falta de caráter ou erro na personalidade.

Brit tem um motivo a mais para estar ali. É claro que um pouco dela é rebeldia de adolescente, e ela mesma acaba percebendo que pode ter passado um pouco de alguns limites. Mas não é algo em que a solução é levá-la para uma clínica. e mais, para uma garota rebelde ela é extremamente careta se pensarmos bem a fundo. Mas ela se pergunta muitas vezes se ela não tem mesmo algum problema - e se tiver, como ela pode saber antes de ficar realmente louca. 
"Mas, como um vulcão à beira da erupção, algo agora borbulhava  dentro de mim. Não apenas raiva e indignação, mas uma inusitada vontade de agir. Já não  aguentava mais estar nas garras daquele bando de pessoas cruéis e sem noção. O mundo estava de  cabeça para baixo. Os adultos tinham abandonado seu papel, buscando refúgio num casulo de  ignorância para depois dizer que os filhos é que eram desajustados. Não dava mais para confiar  neles. Não havia mais ninguém para nos orientar, para cuidar da gente. Então só nos restava uma  coisa: cuidar de nós mesmas."
Com a amizade entre as meninas formadas e elas ajudando uma a outra, não tem como ficar parada diante de tanta coisa errada que acontece na clínica. Então, um plano é elaborado onde elas esperam não somente se livrar da prisão em que se encontram, mas conseguir atenção e ajuda correta para todas as meninas que estão lá. É um passo difícil, mas isso só faz com que o caminho delas seja de um crescimento ainda maior, além de conseguir entender alguns motivos que existem por trás de algumas atitudes (sejam dos pais ou de outras pessoas que nada fazem).
"– Não dá para comparar os seus problemas com os problemas dessas pessoas. Simplesmente não dá.
– Sei que não dá. Não sou tão burra assim. Mas os nossos problemas continuam lá, e ninguém dá a mínima porque somos adolescentes e foram nossos próprios pais que nos colocaram naquela escola dos infernos. Acontece que os adultos também cometem erros!"
O que há de estranho em mim é um livro intenso e cheio de questões importantes de serem tratadas, mesmo assim a narrativa é leve, flui incrivelmente rápida tornando tudo muito fácil de acompanhar. Não tem como não se colocar no lugar das meninas e sofrer junto com elas, não tem como não querer ajudar ou não torcer para que tudo dê certo para as garotas. É aquele tipo de história que você pode saber alguns detalhes, ou muitos detalhes mas que mesmo assim ainda tem muito o que saber e conhecer. Gayle escreveu um livro que toca, emociona e conquista mesmo quando você acha que conhece o caminho para onde tudo irá seguir. É uma leitura incrível e que vale muito a pena estar na lista de lidos!!!

Romântica incurável com um toque de Drama Queen. Sonhadora, teimosa e viciada em livros, afinal, se você não pode cair no mundo, viva através dos personagens! Criadora do blog Amores e Livros, ainda acredita que um dia será paga para ler! Facebook / Twitter / Instagram

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18 comentários

  1. Eu ainda não li o livro mas tenho uma grande vontade. A trama parece ser tensa em muitos momentos e fico com a impressão de que a leitura se passe rápido. Tenho certeza de que algumas clínicas agem mesmo dessa maneira e acredito que essa história tenha um fundo de verdade para muitas pessoas. Gostei de ver a sua opinião e saber um pouco mais sobre o livro.

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  2. Quero muito ler esse livro, Gayle escreve livros muito intensos e histórias que comovem. Apesar de sempre os personagens serem problemáticos, é o tipo de livro que muitas vezes trazem reflexão. Bjkas

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  3. Ooi, ainda não li o livro, mas adorei a resenha, acho que é a primeira resenha que leio do livro e da maneira como escreveu me chamou bastante a atenção me deixando com uma grande vontade de ler.
    Beijos
    http://bellapagina.blogspot.com.br/

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  4. Oiee ^^
    Eu adoro os livros da Gayle, mas ainda não li este, mesmo querendo muito. A premissa dele me lembra um pouco do livro/filme "Garota, interrompida". Parece ser mesmo muito intenso, é muito triste saber que muitas pessoas passam por situações assim, né? Confesso que eu morro de medo de hospitais e clínicas psiquiátricas e coisas do tipo *-*
    MilkMilks ♥

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  5. Quero muito ler esse livro, me parece que a história é ótima, muito diferente e que pena que acontece realmente em alguns lugares. O livro parece ser bem emocionante, daqueles que prendem a gente do começo ao fim, já adicionei na minha lista de leitura.

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  6. Olá!
    Nossa, fiquei muito agoniada com essa resenha só de imaginar o que deve ter acontecido com essas meninas, mesmo que ficcional, a gente acaba ficando meio triste por saber que existem muitas pessoas passando por essas e piores coisas. Fiquei curiosa pra saber como é o desfecho do livro, mas espero muito que todas elas consigam escapar e um tratamento melhor.
    Outra coisa: sua resenha está ótima, me convenceu a procurar o livro, espero que eu goste. Afinal, esse não seria um enredo convidativo para mim, mas acabei ficando curiosa e nunca li nada da autora.

    Beijos!
    they call me maya

    <3

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  7. olá Lica,
    Também tenho uma relação de amo/odeio com essa autora e, por esse motivo, estou bem receosa de ler esse livro com medo de ele fazer parte do time odeio.
    Gostei muito da sua resenha e fiquei bem triste por saber que a obra, apesar de ficcional, se assemelha muito com o que temos atualmente.
    A Brit parece ser uma personagem que vai amadurecendo pouco a pouco e gostei muito disso. Outra coisa que me agradou foi as personagens se ajudarem.
    Vou tentar dar uma dica e torcer para que o livro me surpreenda como te surpreendeu.
    Beijos,
    Um Oceano de Histórias

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  8. Li apenas uma obra dessa autora (Se eu ficar) e assisti a adaptação cinematográfica. Gostei mais do filme que do livro. Lendo a premissa dessa obra, fiquei na dúvida. Talvez, assim como você, eu arrisque e coloque-o na minha lista. Pode ser que eu goste. Suas considerações são favoráveis e me deixaram animada. Quero saber o que acontece com essas meninas nessa trama tão intensa.

    Bjos,
    http://contosdacabana.blogspot.com.br/

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  9. OOi!
    Nossa, eu sempre via esse título e capa mas nem sabia do que se tratava a história. Ameei a premissa dele, parece mesmo ser bem intenso. E por já conhecer a escrita da autora e gostar bastante, já quero ler esse também. <3
    Ótima resenha!

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  10. Oie!
    É muito interessante constatar que gosto é algo mesmo muito particular.
    Antes de tudo tenho que dizer que você construiu muito bem sua resenha, baseada na sua visão e opinião do livro, parabéns! E que bom que ele te agradou tanto. Porque eu não tive a mesma sorte com ele rsrs.
    Esse livro foi uma verdadeira decepção pra mim. Achei a história rasa, não consegui me conectar com os personagens, mesmo Brit sendo uma personagem bacana e a melhor do livro. Pra mim o pai não teve motivo plausível pra internar a filha, e a minha decepção já começou por ai. Apesar da clínica ser terrível e ser um ótimo ponto a ser explorado, achei que a autora não soube aproveitar. Talvez porque tenha sido o primeiro livro dela, não sei. Terminei de ler esse livro, bem frustrada.
    Mas bom que você gostou e assim como você, várias outras pessoas aproveitaram a leitura.
    Beijo

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  11. Tem vários autores que também tenho essa relação de amor e ódio. Livros deles sempre viram uma aventura a parte, pq nunca sei se vou gostar ou não haha

    A sinergia entre a Brit e as amigas parecem ser o melhor do livro, diante da situação em que elas estão, fiquei com a impressão de que o pai não errou tanto assim, afinal os métodos contraditórios ajudaram ela de uma forma ou de outra haha Meu único contato com os livros da Gayle são as capas, que são um arraso, mas nunca cheguei a ler nada dela. Acho que vou começar a ler por esse livro, sua resenha me convenceu.

    Bjs
    Paraíso Literário

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  12. Oiee, tudo bem? Esse livro é mesmo incrível! Uma leitura envolvente e fluida com personagens super interessantes. Adorei o tema que a autora resolveu abordar, afinal é algo que, infelizmente, acontece, e é muito pouco falado. Foi o segundo que li da Gayle e o primeiro, Eu Estive Aqui, também foi muito bom. Sua resenha ficou ótima! Adorei saber tua opinião.

    Beijoos!

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  13. Olá!
    Acredita que eu nunca li nada da autora? Fiquei bem chocada que a história do livro realmente aconteceu em alguns lugares, e fiquei bem curiosa com isso para ler o livro.
    Beijos.
    http://arsenaldeideiasblog.wordpress.com/

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  14. Nunca li nada da autora, e até tinha uma certa curiosidade, mas esses dias vi uns comentários que me deixaram com o pé meio atrás em relação a escrita dela. Mas enfim, não é unanimidade, então eu relevo. Eu tenho Objetos Cortantes aqui, então irei me arriscar primeiro por esse.

    ;D
    Nelmaliana Oliveeira

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  15. Eu já li esse livro e concordo em gênero e grau com você Lica, o livro e incrível, acredito que foi uma das narrativas em primeira pessoa mais envolventes e diferentes que eu já li. Recomendo demais esse livro aos meus amigos, e querendo ou não a narrativa me abriu os olhos para os problemas psicológicos. COmo sempre, arrasando nas resenhas, beijos :**

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  16. Assim como você minha primeira impressão da autora não foi muito boa, quando li Eu estive aqui confesso que esperava bem mais da história, mas no geral até gostei do contexto e tudo mais. Principalmente pelo alerta da mesma, sobre temas reais.
    Depois de ler muitos elogios a O que há de estranho em mim, solicitei e não me arrependi, pelo contrário assim como você achei o melhor que li até agora e com certeza entrou para lista de melhores do ano.
    Amei a postura da protagonista que apesar de se questionar do porquê das coisas estarem acontecendo com ela, não ficou de lamúrias e sim partiu para tentar virar o jogo, não só para ela mas para todas as internas do Red rock. Enfim amei conferir suas impressões. Parabéns pela leitura. Beijos

    Leituras, vida e paixões!!!

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  17. Olá, eu ainda não consegui ler nada da autora...uma pena. Sempre vejo ótimas resenhas sobre suas obras e essa em particular, o enredo é bem intrigante, tenho curiosidade de ler. Adorei a resenha, parabéns!

    Beijokas

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  18. Gosto muito da Gayle Forman e ainda não li O que há de estranho em mim, mas está na minha lista.Eu gosto da maneira como ela consegue falar sobre temas importantes de maneira que atrai o leitor e nos faz pensar sobre a situação. Espero conseguir ler este livro em breve, gostei bastante da resenha.

    Beijos.

    http://livrosleituraseafins.blogspot.com.br/

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